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Ver-o-Peso com 386 anos de cor, cheiro e sabor

27/03/2013
Ver-o-Peso com 386 anos de cor, cheiro e sabor (Foto: Cézar Magalhães)

Ver-o-Peso completa 386 anos nesta quarta-feira (27) (Foto: Cézar Magalhães)

Uma feira que nunca dorme. Um grande centro de compras  com uma rica variedade de frutos, peixes, ervas, artesanato. São 386 anos de histórias vividas todos os dias por vendedores e clientes em um dos principais cartões-postais de Belém. Localizada às margens da Baía de Guajará, a feira do Ver-o-Peso faz parte de um complexo arquitetônico e paisagístico, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A partir das 10h, um bolo de vários metros será repartido entre os presentes logo depois dos parabéns. O rei do carimbó, Pinduca, será atração da festa com show do ritmo que é a cara do Pará. O brega também terá espaço no festejo com apresentação do cantor Edilson Moreno que já garantiu, “não vou deixar ninguém ficar parado”. A programação de aniversário do Ver-o-Peso começou às 6h de hoje.

FRUTAS. De todos os tipos e tamanhos, de diversos cheiros e cores. A área reservada às frutas chama a atenção de quem passa pela maior feira livre da América Latina. As vendas começam cedo e a movimentação se estende por toda a manhã.

Com a voz mansa e jeito tranquilo, Raimundo Mousinho, o “Seu Maranhão”, atende os clientes em sua barraca, onde as tradicionais castanhas-do-pará ocupam lugar de destaque. Já se vão 40 anos desde que saiu do Maranhão para adotar Belém como sua cidade. “Aqui eu conheço todo mundo e todo mundo me conhece. Já me sinto mais paraense que maranhense”, conta.

Perto da barraca de Seu Maranhão, Edilson das Chagas vende uma das principais riquezas dos paraenses: açaí.

Há cerca de 40 anos ele vive a rotina do Ver-o-Peso. “Eu considero isso aqui a minha casa. Nunca tive tristezas aqui, sempre ganhei meu ‘trocado’ e é como se tivéssemos nos tornado uma família”, diz.

Ele conta que começou a trabalhar no local por acaso e que hoje já não se imagina em outro lugar. “Eu pretendo ficar aqui para sempre, ficar velhinho aqui. Passo mais tempo na feira do que em casa”.

Cliente antiga do Ver-o-Peso, a doméstica Olga Gonçalves, 70, escolhe as mercadorias com cuidado. Todos os dias ela vai à feira só para comprar frutas. “Aqui tem muitas ofertas, por isso venho há muitos anos. Alguns vendedores já me chamam até pelo nome”, afirma.

ARTESANATO. As mãos ágeis do artesão Alonso dos Santos decoram uma cuia em poucos minutos. A experiência de 30 anos de trabalho rende belas peças feitas de palha, sementes e madeira, que encantam os turistas que visitam o Ver-o-Peso.

Aos 18 anos de idade, através da influência da família, Alonso chegou à feira para trabalhar. “Já me acostumei com o Ver-o-Peso, esse é um trabalho que eu gosto muito. Aqui você conhece pessoas de todos os tipos e lugares”, diz.

Ele diz que, mesmo com tantos anos de trabalho, a diversidade da feira sempre o encanta. “O Ver-o-Peso é o coração de Belém. Daqui ele se ramifica e vai para todos os lugares. Um pouquinho de cada interior do estado está aqui dentro, é como se fosse um ponto de encontro“.

O gerente Paulo Sérgio Pinheiro é um dos clientes fixos da área de artesanato. Para ele, a beleza do Ver-o-Peso é o mais marcante do local. “A vista da baía é o que eu mais gosto. Só essa visão que você tem daqui já desestressa. O Ver-o-Peso tem uma variedade única de cheiros, sons e cores”.

ERVEIRAS. Os milhares de vidrinhos coloridos e com promessas milagrosas já são uma marca registrada do Ver-o-Peso. É impossível não se render aos rótulos com nomes divertidos e às misturas das famosas “garrafadas”. O poder das ervas é o que sempre motivou a costureira Maria da Glória Gonçalves a frequentar o local toda semana. “Há 42 anos eu moro aqui em Belém e venho sempre na feira. Já tenho até os locais fixos onde gosto de comprar”, afirma.

Ela percorre as barracas e conta com o ensinamento das erveiras para preparar remédios e banhos. “Gosto das folhagens, ervas, óleos. As erveiras são muito boas e sempre peço para me ensinarem os remédios ‘da terra’. Aqui tem tudo que você precisa”.

Há 27 anos trabalhando como erveira, Socorro “Loura” se emociona quando fala do Ver-o-Peso e da profissão que já se estende por quatro gerações de sua família. Seus laços com o local vêm desde a infância. “Eu andava por aqui desde pequena, vinha com a minha mãe. Era bem diferente, as coisas ficavam expostas no chão, agora já é bem mais bonito”, relembra.

Para ela, a feira é o mais belo cartão-postal da cidade. “Eu tenho muito orgulho de trabalhar aqui, esse lugar é a minha vida. Minha história está aqui, aqui foi que construí minha vida e criei meus filhos. Se eu pudesse, atava uma rede e dormia aqui na minha barraca”, diverte-se.

MERCADO DE PEIXE. Um dos principais símbolos do Ver-o-Peso, o imponente Mercado de Peixe é um dos pontos mais movimentados do local. Inaugurado em 1627, com estrutura toda em ferro, ele concentra diariamente uma impressionante variedade de pescados.

Às 2h, o movimento dos vendedores já é intenso no mercado. É hora de preparar a mercadoria para receber os clientes que não tardam a chegar. Antes mesmo de o sol nascer, a comercialização de produtos é grande. Há 35 anos, o peixeiro Emanuel Raiol vive essa rotina e conta que ali realizou um grande sonho. “Conseguir o meu próprio box era um sonho para mim, antes eu alugava um espaço para trabalhar. Demorou, mas eu consegui realizar isso aqui no Ver-o-Peso. Esse lugar é minha vida, minha segunda casa”.

Cliente antigo do Ver-o-Peso, Merivaldo Gonçalves, 76 anos, passeia tranquilamente pelo mercado. A ida ao local traz lembranças do tempo em que ele trabalhava na feira. Merivaldo se sente à vontade e conta que o que mais gosta é admirar a paisagem. “É como se fosse a minha casa, é uma beleza. Eu gosto dessa arruaça, desse cheiro. Isso não tem em nenhum outro lugar, só no Ver-o-Peso”.

PEIXE FRITO E AÇAÍ. A dupla peixe frito com açaí é imbatível quando o assunto é comida no Ver-o-Peso. Preferência de milhares de paraenses, o prato faz sucesso na área de alimentação da feira. O açaí é batido na hora e pode ser acompanhado de farinha d’água ou farinha de tapioca. “Quem mais consome é o pessoal aqui de Belém mesmo, os trabalhadores da feira. Os gringos às vezes não encaram não”, afirma Alcemi Pinheiro, que trabalha no local há seis anos.

Sua relação com o Ver-o-Peso começou quando ele se dedicava à venda de frutas. Depois, resolveu trocar o ofício pela venda de comida. “Sair de casa muito cedo era perigoso, aqui o movimento é mais tarde, começa umas 5h. Eu gosto muito desse lugar, é daqui que tiro meu sustento”.

Extraído do DOL, com informações do Diário do Pará.

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